MICROBIOTA – INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA DIETA

O desenvolvimento da microbiota, nos primeiros anos de vida, acontece mediante a progressiva estabilização da sua
estrutura e forma. Em outras palavras, na infância, a microbiota é instável e mais suscetível aos fatores ambientais, de modo que
a aquisição de um ponto de equilíbrio que permanece relativamente estável em longo prazo é atingida por volta dos 3 anos de idade (1-2).

Sendo assim, reconhece-se que a configuração da microbiota tende a seguir uma trajetória definida pela colonização ocorrida na infância (3).
Além disso, em virtude da relação da microbiota com a funcionalidade do sistema imune, pode-se colocar que esse aspecto traz consequências de longo prazo, como risco aumentado para certas patologias (4).

Embora exista tal assinatura na microbiota, é válido apontar a capacidade da dieta em causar rearranjos nesse ambiente (5), inclusive em curto prazo (6), fato esse que antecede e favorece as perturbações metabólicas no hospedeiro (7).
Dada a extrema importância da microbiota em modular o metabolismo, mediante conexão do sistema imune, endócrino, eixo intestino cérebro e comunicação com outros órgãos (8), torna-se necessário o entendimento de mecanismos para evitar maiores prejuízos, destacando-se aqui a composição da dieta, em especial seu conteúdo de fibras e de gorduras.

É nesse sentido que cito o estudo (6), de 5 dias consecutivos de consumo irrestrito, na qual os participantes foram alocados ao grupo dieta vegana, ou ao grupo dieta animal. Na dieta animal, além da dieta ser zero fibras, também foi mais alta em proteína, gorduras totais e saturadas, já que os alimentos constituintes eram basicamente ovos, bacon, salame, queijo cheddar, muçarela e creme de leite. Na imagem você pode observar as variações na composição da dieta e da microbiota.

Repare na próxima imagem o impacto causado na produção de ácidos graxos de cadeia curta resultantes da fermentação de fibras (A), ou de proteínas (B). Destaque: Muitos dos benefícios das fibras estão nos ácidos graxos de cadeia curta, particularmente o butirato (9).

Outro ponto que merece atenção é o fato de que a dieta baixa em fibras e mais alta em gordura e proteína contribui para o aumento de um metabólito denominado sulfido de hidrogênio, o qual dispõe de efeitos antagônicos ao butirato, principal combustível energético dos colonócitos, danificando o epitélio intestinal através de um desequilíbrio em suas reações de apoptose, proliferação e diferenciação (10-11).


Em (12), avaliou-se o impacto da composição dieta e seus efeitos no risco do câncer de cólon. A hipótese foi testada em populações de alto risco (afro-americanos), comparados à população de baixo risco (africanos moradores de zona rural). No caso, o grupo de alto risco passou a seguir uma dieta alta em fibra e baixa em gordura e o grupo de baixo risco passou a seguir uma dieta baixa em fibra e alta em gordura. Intervenção de duas semanas.


Resultados? Enquanto o grupo de alto risco teve mudança na microbiota, destacando aqui a menor abundância de Biophila wadsworthia, gerando maior síntese de butirato e menor formação de sais biliares secundários, acarretando em mudanças estruturais nos colonócitos (imagem), o inverso ocorreu para o grupo de baixo risco.

CONCLUSÃO: Há razões de sobra para que você coma seus vegetais.
Atenção especial para o fim-de-semana, em que além do maior consumo de alimentos ultraprocessados, baixos em fibras e altos em gordura. temos ainda a presença do álcool.

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