DIETA CETOGÊNICA E CETOGÊNICA CÍCLICA – ALGUMA SUPERIORIDADE OU APENAS DESVANTAGENS?

O cerne da hipótese carboidrato-insulina postula que aumentos nos níveis de insulina, em jejum e pós-prandiais, em resposta ao consumo de carboidratos, são estimulatórios à ingestão calórica, isto é, aumentam a fome/apetite, além de reduzirem o gasto energético e facilitarem a deposição de gordura corporal (1).

Tal modelo vem sendo exposto ao escrutínio e não se sustenta. Como exemplo, cito uma meta-análise de 32 estudos EM AMBIENTE FECHADO, com quantidade de energia (kcal) e proteína equivalentes, quantidade de carboidratos variando de 1-83% e de gordura 4-84%, trazendo resultados similares na perda de peso/gordura corporal (2).
Embora a insulina tenha mecanismos potenciais à obesidade, como a inibição da lipólise, seus níveis basais NÃO estão relacionados ao conteúdo de carboidratos da dieta. Além disso, os níveis séricos de insulina geram efeitos anorexígenos no hipotálamo, ou seja, reduzem a fome, não havendo causalidade, ou sequer associação, do montante calórico com os níveis de insulina (3).

A hipótese carboidrato-insulina é uma simplificação banal, que deve ser abandonada. Há falhas em considerar a relevância do balanço energético; a endocrinologia da secreção da insulina em diferentes combinações de macronutrientes mas, principalmente, falha quanto à regulação alimentar do ponto de vista hedônico.

No tocante à saciedade, o estudo (4), de 28 dias em ambiente controlado, contou com 20 adultos saudáveis, ~30 anos, IMC ~27kg/m2, à intervenção randomizada:
2 semanas de dieta vegana + 2 semanas de dieta cetogênica animal OU o inverso.
Dieta vegana: 75,2% de carboidratos e 10,3% gordura. Densidade energética desconsiderando água ingerida: 1,1kcal/g;
Dieta cetogênica: 75,8% de gorduras e 10% de carboidratos. DE: 2,2kcal/g;
Refeições, todas controladas: 3 + água e beliscos À VONTADE.

Durante a dieta vegana houve redução ESPONTÂNEA no consumo energético em ~ 689kcal, contrariando o modelo CI, apesar da maior ingestão proteica, destacando a relevância da DE.
Mudança na composição corporal foi superior no grupo em dieta vegana.
Limitação: Curto prazo e adaptações à cetose.

Apesar de todo o corpo de evidências que NÃO demonstra qualquer superioridade na aplicação de uma dieta cetogênica para efeitos de aprimoramento da composição corporal (2), ou da performance, especialmente em altas intensidades (5), no meio do fisiculturismo/estético há ampla utilização da dieta cetogênica cíclica sob a alegação de que esse seria um meio eficiente de ser obter os supostos benefícios de uma dieta cetogênica sem comprometimento da performance, já que tal abordagem utiliza de períodos estratégicos de alto consumo de carboidratos para repor os estoques de glicogênio (6).

Em (7), procedimento de 8 semanas, essa hipótese foi testada em 25 homens jovens saudáveis, 1 ano de experiência de treino, os quais foram randomizados ao grupo CKD (dieta cetogênica cíclica) ou RD (dieta regular). Houve equivalência calórica e proteica entre os grupos, sendo uma redução de -500kcal, individualmente estabelecida, e um montante proteico de 15% (1,6g/kg). Os participantes registraram todo o consumo alimentar em um app, o qual era avaliado semanalmente por um nutricionista.
Para o grupo CKD, aos fins-de-semana, a recarga de carboidratos ficava em 8-10g/kg, mantendo a proteína em 15%.
A adesão do grupo CKD, além do diário de registro alimentar e sua verificação semanal, contou com checagem de corpos cetônicos na urina (2X ao dia) e no sangue, ao fim da intervenção.
A rotina de exercícios também foi equivalente entre os grupos, dispondo de 3 sessões de treinamento resistido e 3 sessões de aeróbico.

Na imagem seguinte eu destaco alguns resultados.
A grande limitação do estudo foi avaliar a composição corporal através de bioimpedância.
Meus destaques: Grupo RD reduziu ~4kg de gordura, enquanto que grupo CKD reduziu ~2kg.
Massa muscular e água considero inviáveis a avaliação pela bio.
CK no grupo RD teve menor variação para baixo, provavelmente devido manutenção da performance.

É nesse sentido que exponho os achados do artigo (8), em que os participantes, 17 homens de IMC 25-35 kg/m², após 4 semanas de dieta controle (15% proteína, 50% carbos, 35% gorduras), passaram a seguir, por outras 4 semanas, uma dieta cetogênica isocalórica (15% proteína, 5% carboidratos, 80% gorduras).
Todas as refeições foram providenciadas durante o estudo e supriram 105% do gasto energético avaliado através de uma câmara respiratória, onde os participantes ficavam 2 dias consecutivos em cada semana.
Apesar das variações na composição, ambas dietas dispunham de quantidades mínimas de alimentos processados e mantiveram o mesmo nível de rigor técnico.
Semanalmente foram avaliados corpos cetônicos, marcadores de homeostase glicêmica, lipídica e de inflamação.

Na semana 2 da dieta controle, os participantes realizaram uma refeição teste, contendo 20% da energia total da dieta. 3 dias depois,
receberam uma refeição com 20% da energia no modelo de dieta cetogênica.
Na semana 4 da dieta cetogênica (já adaptados), os participantes realizaram a refeição teste em ordem inversa. Primeiro padrão cetogênico e depois controle.

Você pode observar os resultados nas imagens.
SIM, meus caros, na dieta cetogênica você vê a sensibilidade à insulina PREJUDICADA.
Indivíduos em suas dietas normais, ao se depararem com refeição alta em gordura, sofrem uma perturbação MENOR em relação
à situação de estarem em dieta cetogênica e introduzirem carbos.
Outros destaques dos autores: A alteração da dieta controle para cetogênica foi associada a aumento no LDL e PCR.

CONCLUSÃO, para dizer o mínimo: Dieta cetogênica NÃO é superior para composição corporal e performance. Não é anti-inflamatória e NÃO necessariamente melhora sensibilidade à insulina.
Dependendo de como for, pode ser o INVERSO.

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