LEPTINA – SERÁ QUE COMER MAIS TEM ALGUMA UTILIDADE?

O modelo lipostático da regulação do peso corporal estabelece que há um mecanismo de feedback dos adipócitos/seus derivados com o hipotálamo, o qual orquestra diversas funções metabólicas para que o organismo equalize as eventuais discrepâncias, mesmo de curto prazo, na entrada e/ou saída de energia, para que mantenha-se em homeostase energética (1-2).
Esse entendimento é o predominante para explicar a base fisiológica do reganho de peso, já que menor volume dos adipócitos/leptina acarreta em modulação do apetite, gasto energético e comportamento, favorecendo maior procura, consumo alimentar e menor movimento, desencadeando na recuperação do peso perdido (3-4).

É dessa base que nasce a hipervalorização da leptina e de estratégias mecanicistas em busca de seus aumentos transitórios, procurando com tais intervenções resolver ou minimizar as adaptações metabólicas resultantes do PROGRESSO na perda de peso. Sendo assim, vamos citar MAIS estudos que lidam com REFEEDS ou superalimentação de curto prazo.

VEJAMOS:

Em (5), os participantes foram submetidos a 3 dias de intervenção normocalórica, seguindo com 3 dias de excesso (+40%) advindo de carboidratos ou gordura.
No dia 1, avaliou-se o metabolismo basal por calorimetria indireta. No dia 3 de cada intervenção houve monitoramento por 23h em câmara respiratória para aferir o gasto energético total. No dia 4 (logo após) cada protocolo de dieta, ocorreu coleta de sangue para checar alguns hormônios, dentre eles a leptina.
Na imagem você pode observar que apenas na estratégia com carbos houve o aumento em leptina, ~+25%, além de um aumento de 580KJ no gasto energético total, ou ~140kcal.
Não me parece muito viável aumentar 40% de excesso energético para ter +140kcal de gasto.

Em (6), após 4-10 semanas seguindo dieta ajustada para manutenção do peso, os sujeitos foram submetidos ao seguinte protocolo:
12 dias, 4 blocos de 3 dias.
Grupo 1: 100% das necessidades energéticas, seguindo com 130%, 100%, 70%;
Grupo 2: 100% das necessidades energéticas, seguindo com 70%%, 100%, 130%.
Em outras palavras, em excesso e depois déficit, OU em déficit e depois excesso.
Na imagem, repare que a leptina oscila em acordo com a disponibilidade energética de curto prazo/dieta.

A PERGUNTA QUE FICA: SERÁ QUE ISSO É SIGNIFICANTE?
EM ALGUM ESTUDO, o excesso energético de curto prazo gera redução no peso e em gordura após a superalimentação?

Em (7), design na imagem seguinte, os indivíduos, homens jovens, foram submetidos à intervenção de superalimentação por 3 dias,
acontecendo do seguinte modo:
Dias 1-7: Dieta habitual, a qual era avaliada por um nutricionista bem treinado. Os sujeitos pesavam e fotografavam sua alimentação.
Dia 8: Avaliação de composição corporal pelo modelo de 3 compartimentos;
Dias 8-10: Dieta habitual;
Dia 10: Outra avaliação;
DIas 11-13: Aumento de 1500kcal da ingestão habitual, mantendo o mesmo nível de atividade física, a qual também era monitorada.
Dia 14: Avaliação final.
Dia 15-28: Período pós-intervenção e observacional.

Conforme você pode observar, houve até perda de massa gorda, sendo que o peso aumentou principalmente pela variação em água.
Os sujeitos retornaram ao peso habitual em um intervalo de 0-14 dias, o que reflete as respostas individuais na regulação do peso corporal.

Em (8), com o interesse de considerar como o excesso energético impacta o consumo alimentar espontâneo, os indivíduos foram submetidos, após 14 dias de dieta controle, a 13 dias de ingestão contendo 135% (+35% do período controle, ~15% de proteína).
Após os dias de superalimentação NÃO HOUVE compensação na ingestão alimentar, no período seguinte, de 21 dias, provavelmente porque a eficiência espontânea desse efeito seja assimétrica, além variável entre os indivíduos em razão de aspectos cognitivos (9-10). O interessante desse estudo é que coloca em questão as limitações da teoria do “set point”, a qual postula que a fim de garantir a homeostase energética e da adiposidade, quaisquer perturbações na disponibilidade energética resultariam em compensações de ordem fisiológica e comportamental de modo a permanecer em um estado de equilíbrio, classificado como “set point” (11).

CONCLUSÃO: Mudanças transitórias em leptina e também no gasto energético, em acordo com a oferta alimentar, NÃO são determinantes para EVITAR que as adaptações metabólicas da perda de peso ocorram.
Elas ocorrerão inevitavelmente e a estratégia mais viável será aquela que traz maior sustentabilidade do ponto de vista COMPORTAMENTAL, até porque o comportamento já é reflexo de toda uma estrutura interna e externa.
Por isso, foque mais em conseguir manter-se em déficit, do que em subir ou ciclar kcal ou carbos pensando em vias metabólicas.

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