Ao pensar em adaptação metabólica, importa considerar os achados do experimento de Minessota. No caso, os indivíduos submeteram-se durante 24 semanas à uma dieta hipocalórica, restrita energeticamente em 55% (3400 – > 1500kcal). Resultados?
Média da perda de peso: -25%;
Gordura corporal média dos participantes: ~5%;
Média da adaptação metabólica: -50%, sendo -35% efeito de variações no fator atividade (1).
Perturbação no gasto energético basal independentemente das variações ocorridas na composição corporal, isto é, termogênese adaptativa: média: ~72kcal, sendo ~40kcal oriundas da redução da funcionalidade de alguns órgãos e outras 32kcal sem explicação específica (2).
Em obesos que reduzem 50kg de peso, termogênese adaptativa calculada usando equação de regressão de massa gorda pré e pós-intervenção: =120kcal (3).
Estudos que avaliam a termogênese adaptativa como quantitativamente significante, (4-5), p. ex., falham em suas metodologias, seja na medição, seja na formulação de equações de predição do metabolismo basal, além de não considerarem que em estados metabólicos obesos há uma adaptação para cima no gasto energético basal (6), o que limita a validade dos resultados e da comparação.
É interessante frisar que, ponto de vista biológico, conforme você avança em dieta/exercício e reduz gordura corporal, aumenta-se a pulsão para a sobrevivência, sendo esta abrangente, persistente e redundante (7).
Isso quer dizer que fisiologicamente haverá, cada vez mais, o enfrentamento de situações e adaptações de ordem homeostática. Complementam ao sistema elementos ambientais e comportamentais, dispondo de uma dinâmica/interação assimétrica e variável. Em outras palavras, as influências biológicas seguem uma tendência linear para reduzir a probabilidade da perda de peso, ou favorecer seu reganho. As forças ambientais e comportamentais são aleatórias, individuais e dependem de características próprias (7). Cito aqui a robustez biológica e a capacidade do indivíduo tolerar o estresse (8).
É nesse sentido que entram estratégias dietéticas, como o “refeed” e as “pausas programadas”, valendo-se ainda de orientações próprias a cada caso.
Vejamos:
Em (9), 25 homens jovens, divididos em 2 grupos (13 e 12 pessoas);
Todos eles receberam dietas diferentes para um período de controle (C) seguido por restrição severa (S) e realimentação (R);
G1: 3280kcal (Controle, 21 dias), 1010kcal (S, 24), 5300kcal (R, 20);
G2: 3966kcal (Controle, 21 dias), 1000kcal (S, 16), 5384 (R, 15 dias);
Resultados na imagem. ATENÇÃO: Basal restabelecido em poucos dias.
NOTA: Curto prazo, poucas pessoas, homens e não são mega obesos que perderam 50kg, mas algo em torno de ~10%.
Em (10), imagem 2, foi utilizada a estratégia de 11 dias restritos para 3 “ad libitum” (2 ciclos) e ainda contou com aumento das kcal no último ciclo.
Houve maior preservação da TMB no grupo que seguiu o ciclo de kcal, quando comparado ao grupo linear.
Os resultados na composição corporal foram equivalentes, mas ainda superiores no grupo CSD.
Em (11), imagem 3, foi avaliada se pausas planejadas na dieta interferem na adesão ao plano, afetando negativamente a
continuidade do objetivo.
Intervenção: 14 encontros com orientações sobre alimentação, exercício, + pesagem e discussões em grupo.
Os participantes foram divididos em 3 grupos:
Controle: Encontros semanais;
Pausa curta: 2 semanas de pausa após 3ª, 6ª e 9ª lição;
Pausa longa: 6 semanas de pausa após a 7ª lição.
A dieta ficou entre 1000-1500kcal, dependendo do peso inicial do participante. 13 alimentos altos em gordura foram excluídos.
Os participantes foram instruídos a se pesar diariamente e a criar um registro semanal da rotina de dieta e exercícios.
Destaquei na imagem 3 os meus pontos de interesse. Note que o peso já da 20ª semana estava equivalente ao da 5ª semana
para o grupo sem pausa, enquanto que os grupos com pausa tiveram certa volatilidade a qual, dependendo do modo que é interpretada, pode predispor a sensação de fracasso e abandono do planejamento.
Em (12), 49 mulheres, ~40 anos, IMC ~40kg/m2, foram randomizadas à intervenção dietética:
. BDD (1200kcal/dia, sendo 15-20% proteína, 30% gordura e o restante de carbos);
. VLCD (1200kcal na semana 1, seguindo com uma dieta líquida contendo 420kcal – 70g de proteína, 30g de carbos, restante em gordura). A partir da semana 18 os alimentos foram reintroduzidos, chegando nas 1200kcal, como para o grupo BDD.
Ambos os grupos receberam apoio cognitivo comportamental, sendo instruídos a registrar o comportamento alimentar
(quantidades, calorias, horário); controlar os estímulos associados ao ato de comer; modificar pensamentos e emoções negativas; obter apoio social e a aumentar a
atividade física.
SEMANAS 1-52: 1 sessão semanal.
SEMANAS 56-72: 1 sessão a cada 2 semanas.
Na imagem 4, os resultados. A observação aqui é que a DISCIPLINA é algo completamente aleatório.
Enquanto uns podem preferir algo mais simples e direto, outros podem se dar melhor com variações na rotina, o que pode favorecer alguns vieses cognitivos, podendo melhorar o desempenho.
CONCLUSÃO: A busca pela estratégia mais adequada sempre deve considerar o caso em concreto.
Se seu resultado não vem, certamente não é devido à alguma adaptação metabólica do ponto de vista fisiológico, mas comportamental.