LPS (lipopolissacarídeo) é um dos componentes da membrana externa de bactérias gram negativas, como as bacteriodetes. Tal estrutura é considerada uma endotoxina, dada sua capacidade de ativar respostas inflamatórias mediante o complexo LPS-LPB, através do seu reconhecimento/ligação com o TLR4, levando à produção de citocinas/quimiocinas, efeitos inflamatórios e adaptativos (1).
Importa considerar que o LPS pode ser translocado do intestino para a circulação sistêmica.
A literatura demonstra que há um aumento transitório no nível de LPS no período pós prandial, o que sugere um papel relevante na qualidade nutricional, já que a endotoxemia está associada ao conteúdo de gordura da dieta/refeição e não ao montante calórico, mesmo em indivíduos saudáveis (2-3).
Em (4), com a finalidade de avaliar as consequências de curto prazo de uma dieta alta em gordura quanto à endotoxemia e permeabilidade intestinal, homens jovens saudáveis submeteram-se à seguinte intervenção:
Dias 1-14: Dieta normocalórica controle (55% carboidratos, 30% gorduras, 15% proteína);
Dias 16-20: Dieta normocalórica alta em gordura (55% gorduras, 30% carboidratos, 15% proteína);
Dia 15 e 21: Refeição alta em gordura (820kcal, 63% gorduras, sendo 26% saturadas, 25% carbos e 12% proteína).
Após jejum noturno, coletas de sangue foram obtidas a cada hora seguinte à adminstração da dieta alta em gordura.
Apesar desse estudo não achar variação significativa na permeabilidade intestinal, ainda assim houve uma elevação considerável na endotoxemia no decorrer da condução da dieta alta em gordura, conforme você pode observar na imagem.
Chamo a atenção agora para estudo (5), de 5 dias consecutivos de consumo irrestrito, na qual os participantes foram alocados ao grupo dieta vegana, ou ao grupo dieta animal. Na dieta animal, além da dieta ser zero fibras, também foi mais alta em proteína, gorduras totais e saturadas, já que os alimentos constituintes eram basicamente ovos, bacon, salame, queijo cheddar, muçarela e creme de leite. Para efeitos desse texto, destaco o fato de que a dieta baixa em fibras e mais alta em gordura e proteína contribuiu para o aumento de sais biliares secundários, bem como de um metabólito denominado sulfido de hidrogênio, o qual dispõe de efeitos antagônicos ao butirato, principal combustível energético dos colonócitos, danificando o epitélio intestinal através de um desequilíbrio em suas reações de apoptose, proliferação e diferenciação (6-7).
A literatura traz a informação de que aos fins-de-semana há maior consumo alimentar e menor qualidade nutricional (8-9). Parte da explicação está na AMBIÊNCIA: Mais refeições realizadas em grupo, em diferentes locais e em restaurantes fast-food (9).
Também aponto que aos fins-de-semana há maior distração, o que favorece o consumo passivo (10). Ressalto ainda o papel da reduzida capacidade de autocontrole devido esgotamento da semana (11).
Sendo assim, nesse período da semana, além de uma tendência da dieta ser baixa em fibras e mais alta em gorduras, temos outro elemento de extrema importância no quesito qualidade nutricional: Álcool!
Motivos, os quais se amplificam conforme dose e tempo:
– Prejuízo na integridade da barreira epitelial do intestino (12), o que por si só induz à translocação de endotoxinas;
– Indução de disbiose intestinal, levando à disfunção de diversos neurotransmissores, alterando humor e comportamento (13).
CONCLUSÃO: A pior combinação que você pode fazer pensando em saúde intestinal é dieta baixa em fibra + alta em proteína + alta em gordura (em especial saturada) + álcool.
Esse padrão alimentar se assemelha absurdamente com o padrão “churrasco + cerveja” aos fins-de-semana.
Não é sem razão que você reclama da sua saúde intestinal sem se dar conta dos efeitos sistêmicos de tal conduta.
Mudar da cerveja para o vinho não alterará em NADA no que estou apontando.